A Síndrome de Tourette (ST)-*Estimulação Cerebral Profunda (DBS)*

A Síndrome de Tourette (ST)-*Estimulação Cerebral Profunda (DBS)*

A Síndrome de Tourette (ST) é uma desordem neuropsiquiátrica caracterizada por tiques motores e vocais. Esses tiques são movimentos ou sons rápidos, repetitivos e não rítmicos.


*Histórico*

A Síndrome de Tourette foi nomeada em homenagem a Georges Gilles de la Tourette, um neurologista francês que, em 1885, descreveu a condição em um artigo sobre nove pacientes. No entanto, as descrições dos sintomas da ST podem ser encontradas em textos que datam do século XV.


*Diagnóstico*

O diagnóstico é predominantemente clínico, baseado na história do paciente e na observação dos tiques. Critérios diagnósticos incluem:


1. Presença de múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais, embora não necessariamente ao mesmo tempo.

2. Tiques ocorrem várias vezes ao dia, quase todos os dias, por mais de um ano.

3. Início antes dos 18 anos de idade.

4. Exclusão de outras causas médicas ou de uso de substâncias.


Além disso, é importante considerar a possibilidade de comorbidades associadas, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e problemas de aprendizado.


*Tratamento*

O tratamento visa reduzir os sintomas que causam desconforto ou comprometem a funcionalidade do paciente:


1. *Medicação*: Neurolépticos, como o haloperidol e pimozida, são frequentemente prescritos, mas podem ter efeitos colaterais significativos. Outras drogas incluem clonidina, guanfacina e medicamentos que atuam no sistema dopaminérgico.

2. *Terapia Comportamental*: Técnicas como Terapia de Reversão de Hábito podem ajudar na gestão de tiques.

3. *Educação*: Informar ao paciente e à família sobre a condição pode ser útil.

4. *Apoio Psicológico*: Terapia cognitivo-comportamental pode ajudar no manejo de comorbidades.


*Prognóstico*

A maioria das pessoas com Síndrome de Tourette experimenta uma melhoria dos sintomas na transição da adolescência para a idade adulta. No entanto, a condição pode persistir em alguns adultos. A gravidade varia entre os indivíduos. Com tratamento e apoio adequados, a maioria dos pacientes pode levar uma vida normal e produtiva.


*Referências Bibliográficas*:

1. American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Arlington: American Psychiatric Publishing.

2. Cohen, D. J., & Jankovic, J. (1986). Tourette syndrome: Evolution of clinical and etiological concepts. In Advances in Neurology (Vol. 35, pp. 385–406).

3. Leckman, J. F., Zhang, H., Vitale, A., et al. (1998). Course of tic severity in Tourette syndrome: the first two decades. Pediatrics, 102(1 Pt 1), 14–19.

4. Piacentini, J., Woods, D. W., Scahill, L., et al. (2010). Behavior therapy for children with Tourette disorder: a randomized controlled trial. JAMA, 303(19), 1929–1937.


Esta é uma visão geral da Síndrome de Tourette. Consultas mais detalhadas e decisões sobre tratamento devem ser feitas com profissionais de saúde especializados.


A neurocirurgia funcional é uma opção terapêutica para pacientes com Síndrome de Tourette (ST) que são refratários aos tratamentos convencionais e continuam com sintomas severos e incapacitantes na idade adulta. A cirurgia mais comumente realizada para a ST refratária é a Estimulação Cerebral Profunda (DBS, do inglês "Deep Brain Stimulation").


*Estimulação Cerebral Profunda (DBS)*:


O DBS envolve a implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro, conectados a um dispositivo gerador de pulsos, similar a um marca-passo, implantado sob a pele na região peitoral. Esse dispositivo envia impulsos elétricos contínuos ao cérebro, que podem ajudar a regular as anormalidades neurais associadas à ST.


*Alvos Cirúrgicos*:


Várias regiões do cérebro têm sido investigadas como alvos para DBS em ST, incluindo:


1. *Núcleo accumbens*: Associado a melhoria nos tiques e comportamentos compulsivos.

2. *Região tálamo-cortical*: Especialmente o núcleo ventralis intermedius e o núcleo ventro-oral interno do tálamo.

3. *Globus pallidus internus (GPi)*: Tem se mostrado promissor em alguns estudos, com redução significativa dos tiques.


*Eficácia e Segurança*:


Vários estudos têm mostrado que o DBS pode ser eficaz na redução da gravidade dos tiques em pacientes com ST refratária. No entanto, como qualquer procedimento cirúrgico, a DBS tem riscos, que podem incluir infecção, sangramento, e complicações relacionadas ao dispositivo.


*Referências Bibliográficas*:


1. Maciunas, R. J., Maddux, B. N., Riley, D. E., Whitney, C. M., Schoenberg, M. R., Ogrocki, P. J., ... & Anthony, K. K. (2007). Prospective randomized double-blind trial of bilateral thalamic deep brain stimulation in adults with Tourette syndrome. Journal of neurosurgery, 107(5), 1004-1014.

 

2. Servello, D., Sassi, M., Brambilla, A., Porta, M., & Haq, I. (2010). Deep brain stimulation in 18 patients with severe Gilles de la Tourette syndrome refractory to treatment: the surgery and stimulation. Journal of neurosurgery, 112(3), 505-511.


3. Schrock, L. E., Mink, J. W., Woods, D. W., Porta, G., Servello, D., Visser‐Vandewalle, V., ... & Ackermans, L. (2015). Tourette syndrome deep brain stimulation: a review and updated recommendations. Movement Disorders, 30(4), 448-471.


Embora a neurocirurgia funcional, particularmente a DBS, ofereça uma nova esperança para pacientes com ST refratária, é essencial que o procedimento seja realizado em centros especializados com experiência na técnica. Uma avaliação multidisciplinar, incluindo neurologistas, neurocirurgiões, psiquiatras e neuropsicólogos, é crucial antes da decisão de seguir com o procedimento cirúrgico.


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